Quem sou eu

Advogada, livre pensadora, protótipo de escritora, mãe e esposa...

terça-feira, 18 de setembro de 2007

AJUDA-TE!


Eram 21h e Gwenda acabara de entrar em casa. Silêncio. Parece que não havia mais ninguém.
Subiu para o quarto, tomou um banho e se deitou. Estava muito cansada e adormeceu logo.
Despertou com batidas na porta. Olhou o relógio, eram 23h. Seu marido estava viajando e seus filhos já deveriam estar dormindo.
Desceu as escadas e um pouco assustada abriu uma fresta da portinhola. Na rua uma jovem senhora, de feições conhecidas a olhava sorrindo.
- Tia Rebeca! A senhora aqui, a esta hora! Entre, entre, é perigoso ficar na rua tão tarde da noite.
A jovem senhora entrou e silenciosamente se dirigiu para a saleta, seguida por Gwenda ainda atordoada com a visita e também por ter acordado de supetão.
Tia Rebeca sem se sentar disse a Gwenda que esta precisava conversar com sua prima Briana.
Rapidamente explicou que sua filha Briana estava muito deprimida e há dias não saía de casa. Comentou que Briana tinha chegado a pensar em suicídio e precisava de auxílio urgente.
Gwenda, com o olhar vago e ainda parecendo confusa disse em tom pausado:
- Amanhã posso dar uma passadinha na casa dela. Fica perto daqui não? Já faz algum tempo que não nos vemos e talvez ela não se agrade de uma visita a esta hora.
- Tu não entendeste Gwenda, precisamos ir até lá agora!
Como um autômato, Gwenda assentiu. Levantou-se e dirigiu-se até a porta convidando a tia para que ambas fossem ter com a prima.
Gwenda dirigiu algumas quadras e parou o carro em frente a uma casa muito simpática. Daquelas com cerquinha na frente e com um jardim que outrora deveria ter sido muito bem cuidado. No momento estava um pouco largado.
As duas desceram e Gwenda apertou a campainha e com um certo constrangimento sorriu quando a prima olhou pela janelinha.
- Boa noite Briana!
A prima não respondeu.
- Bri, abre a porta, está frio aqui fora!
Nada.
Gwenda forçou um pouco a porta e esta se abriu, propiciando a que as duas entrassem.
A casa estava escura e silenciosa e Gwenda sentiu um forte cheiro de gás vindo da cozinha. Correram para lá e viram Briana caída, inconsciente, talvez até morta. Gwenda correu para o telefone e chamou socorro.
Em poucos minutos a prima estava sendo atendida e pelo que parecia iria se recuperar.
Uma simpática enfermeira perguntou se Gwenda era a familiar mais próxima e após olhar de esguelha para a tia se mantinha em silêncio informou que sim.
Explicou como havia encontrado a prima e que esta não estava em um bom momento. Deixou telefone e endereço para qualquer eventualidade e prometeu ir até o hospital na manhã seguinte.
Quando todos saíram, Gwenda se voltou para a tia com ar interrogativo.
Tia Rebeca entendeu as dúvidas da sobrinha, mas permaneceu em silêncio deixando que esta iniciasse a conversa.
- A senhora sabia que Briana estava precisando de ajuda. Como?? Mais alguns minutos e ela estaria morta.
- Sim. Por isso eu disse que era urgente. Briana nunca foi muito boa com perdas o que talvez explique o fato de nunca ter se casado. Eu a ouço chorar todas as noites, rogando por alívio, mas na verdade ele só virá através de companhia.
- Mas ela nunca foi dada a conviver com a família tia. Veja que não moramos tão longe assim e mesmo assim não vejo há mais de um ano. A última vez foi... Ah! No velório!
Ao dizer isso, Gwenda arregalou os olhos e repetiu quase sussurrando:
- No velório da tia Rebeca!
Dizendo isso, Gwenda acordou. O suor escorrendo pelo pescoço e o coração parecendo que ia rebentar o peito de tão acelerado.
- Que sonho!! Preciso rezar pela minha tia.
Olhou o relógio. Eram 7h e resolveu levantar para chegar mais cedo na escola.
Foi até a cozinha e encontrou Maria acordada terminando de colocar a mesa.
Não fez nenhum comentário sobre o sonho.
Depois do café, se dirigiu para o quarto e ao tirar o hobby percebeu que no bolso haviam alguns papeizinhos dobrados.
Ao ler os papéis empalideceu. Eram os relatórios de atendimento médico de Briana na noite anterior e um cartão com o nome da médica e o hospital para onde a prima foi levada.
Afinal, havia estado com ela na noite anterior. Não era sonho. Lembrou de tia Rebeca e um suave arrepio subiu a espinha.
Vestiu-se rápido e se dirigiu ao Hospital de Caridade São José.
Encontrou Briana já acordada e esta quando a viu corou, mostrando-se constrangida.
- Gwen. Que bom que vieste cedo. Dra. Luciana me disse que talvez desses uma passada. Olha. Obrigada. Não se como, mas obrigada.
Gwenda abraçou a prima e enxugando uma lágrima insistente sentou na beirada da cama.
- Bri. Ontem a noite tia Rebeca foi me buscar...
Briana olhou-a como quem não estava entendendo.
- Ela disse que tu precisavas de ajuda e que pensavas em te matar. Eu saí com ela. Ta, tu achas que enlouqueci né?
Briana começou a chorar. Gwenda segurou as mãos da prima e continuo:
- Eu achei que tinha sonhado, mas eu fui até tua casa e ...
- Não precisa falar mais nada. Eu venho chorando noites e noites. Não consigo dormir. Sinto falta da minha mãe. Noite passada eu tive um sonho estranho. Estávamos, eu, mamãe e tu brincando naquele pátio que tínhamos na outra casa. Lembra? Éramos pequenas. De repente caí num poço seco. Cheguei a sentir o cheiro da terra úmida do fundo do poço e enxergava a abertura longe como um pequeno foco de luz.
Senti quando alguém me segurou no colo e eu consegui sair.
Acordei aqui.
Não sei como cheguei a este ponto, mas preciso de ajuda. Não agüento mais viver sozinha.
Gwenda, ainda atordoada com todo acontecido disse a prima que ela não estava sozinha e que as duas iriam se ajudar dali para frente.
Afinal, Gwenda não queria outras visitas noturnas da tia morta.
Combinaram que aquilo tudo ficaria em segredo, senão Gwenda poderia até ser internada pela família.
Passados alguns minutos as duas estavam rindo. Conversaram mais um pouco e Gwenda prometeu vir buscar Briana à tardinha, para levá-la para casa.
Quando entrou no carro, sentiu um perfume diferente que lembrou tia Rebeca.
Sorriu e falou em voz alta:
- De nada!