O espaçoso quarto do casal estava na penumbra e ambos, Gwenda e seu marido, estavam ajoelhados sobre uma pilha de almofadas.
Nelas repousava Juscelino, um cãozinho de porte médio, sem raça definida, muito peludo, marrom e preto. O cãozinho dormitava sobre as almofadas e por vezes soltava um gemido baixo.
Gwenda afagava o cãozinho enquanto as lágrimas caíam.
De repente, quebrando o silêncio ela encarou o marido e disse quase gritando:
-Isso é eutanásia sabia? Morte misericordiosa... Tu sabes o que ele representa para mim. Muitos me têm como louca, estes mesmos que não entendem nada de amizade. Quando eu chego, cansada, ele ta ali, me olhando. Acompanha-me por toda casa, pois não quer me ver só. Quer estar disponível caso eu precise dele. Entende?!
O marido, cabisbaixo argumentou:
- Amorzinho, eu também amo esse pequeno abrigo de pulgas sem teto. Mas ele não poderá mais caminhar. Como vamos fazer?
- Ora, vamos cuidar dele. Como seria se eu não pudesse mais caminhar?
- Gwenda, não diga besteiras. Ele é um cão!
- Tu és igual aos outros. Pois bem, espero que não fiques doente e dependas de mim para escolher se deves viver ou não.
Nesse momento, Michela entrou no quarto, assustada com o tom da conversa entre os pais.
- O que há “papi”?
- Tua mãe se recusa a dar um alívio para o pobre Juscelino. Ele não pode mais caminhar, já que as patas traseiras foram condenadas e ela acha que queremos simplesmente matar o cão!
- E não é isso mesmo “papi”? Será que não tem outro jeito, podemos procurar especialistas...
-Michela, ele é um cão!!
-Basta! Gritou Gwenda. Deixem-me aqui. Vou conversar comigo mesma e decidiremos o que fazer. Eu e eu mesma. Entenderam?
Os dois saíram e Gwenda ficou ali deitada ao lado de seu amigo e começou a conversar com o cãozinho.
- Ás vezes eu penso que não estou boa da cabeça mesmo amiguinho. Eu sei que tu não falas e que és um cão. Um pequeno abrigo de pulgas sem teto. Mas quando estou na rua trabalhando, sinto falta de ti e tenho vontade de chegar logo em casa para receber a festa que sei, tu farás. Sei que os cães não vivem muito, mas, tu estas ainda tão jovem. Ainda sobraram alguns tapetes de banheiro que não foram roídos e eu comprei pantufas novas para brincarmos à noite...
Gwenda chorava e Juscelino gemia. Eram duas criaturas sentindo dor.
Gwenda ligou a TV e acomodou Juscelino ao seu lado na cama. O cãozinho gemeu um pouco, mas logo enfiou o focinho embaixo das cobertas.
Ficaram ali por quase duas horas e Gwenda chorava ao ouvir o animalzinho gemer, cada vez que tentava se levantar.
- “Juju”, o que tu queres que eu faça?
O pequeno animal abriu seus grandes olhos negros e fitou Gwenda por alguns instantes voltando a enfiar o focinho nas cobertas.
Quando o marido de Gwenda voltou para o quarto, Juscelino levantou a cabeça e ficou olhando para o dono. Tentou levantar para a festinha habitual, mas não conseguiu, voltando a gemer.
- Gwen, o veterinário ligou, pediu que fôssemos vê-lo. Tu preferes que eu vá sozinho?
- Mas eu disse que ligaríamos assim que eu decidisse o que fazer. Quanta insistência para assassinar um pobre animal... Bem vou me vestir, já tenho a resposta para ele.
- Amorzinho, não precisamos ir agora, e nem precisa ser hoje.
- Olha só, decisões difíceis têm de ser tomadas logo. Chame Maria e peça que traga as roupas do Juscelino. Quero escolher uma bem bonita.
O marido saiu, sem dizer nada.
Em seguida entrou Maria, a empregada chinesa, com as roupas do pequeno “Juju”, dispondo-as sobre a cama.
Gwenda escolheu um traje escocês lindo e colocou no bichinho bem devagar para que ele não sentisse dor.
- Venha querido, é hora de dizer adeus.
Desceram as escadas e Michela cabisbaixa não disse uma palavra resumindo-se a afagar o amiguinho pela última vez.
- Que injustiça “mami”. Só porque ele é um animal...
Gwenda sem dizer nada entrou no carro com Juscelino. Abriu o vidro e disse ao marido:
- Vamos só eu e ele. Até mais tarde.
Deu a partida no carro e foi até a clínica lá permanecendo por pouco mais de 20 minutos, saindo após esse interregno com sua carga preciosa nos braços.
Quando chegou em casa, foi recebida por Maria e seu marido que viram entre sorrisos e lágrimas Juscelino descendo do carro no colo de Gwenda abanando a ponta do rabo que escapava da roupa.
- Amorzinho, fiquei tão arrependido, ainda bem que mudaste de idéia. Bem vindo amigo! Bem vindo!
- Ora, não mudei de idéia.
- Mas a senhora disse que era hora de dizer adeus... Eu achei e o patrão também que...
- Sim, mas não mudei de idéia. Realmente era hora de dizer adeus. Adeus ao Dr. “vamos ter de sacrificá-lo”. Mudamos de veterinário. Na verdade agora temos uma veterinária e ela me assegurou que “Juju” com uma pequena cirurgia poderá até caminhar. Vai dar um pouco de trabalho, mas, o que não fazemos por um amigo, não é verdade? Agora vamos que está muito frio e não queremos pegar uma gripe.
Dizendo isso ao animal que mais parecia uma bola de pelos enrolada em tecido xadrez, entraram todos fazendo festa ao cãozinho que gemia cada vez que recebia um abraço. (Gilda Satte Alam Severi Cardoso)
Nelas repousava Juscelino, um cãozinho de porte médio, sem raça definida, muito peludo, marrom e preto. O cãozinho dormitava sobre as almofadas e por vezes soltava um gemido baixo.
Gwenda afagava o cãozinho enquanto as lágrimas caíam.
De repente, quebrando o silêncio ela encarou o marido e disse quase gritando:
-Isso é eutanásia sabia? Morte misericordiosa... Tu sabes o que ele representa para mim. Muitos me têm como louca, estes mesmos que não entendem nada de amizade. Quando eu chego, cansada, ele ta ali, me olhando. Acompanha-me por toda casa, pois não quer me ver só. Quer estar disponível caso eu precise dele. Entende?!
O marido, cabisbaixo argumentou:
- Amorzinho, eu também amo esse pequeno abrigo de pulgas sem teto. Mas ele não poderá mais caminhar. Como vamos fazer?
- Ora, vamos cuidar dele. Como seria se eu não pudesse mais caminhar?
- Gwenda, não diga besteiras. Ele é um cão!
- Tu és igual aos outros. Pois bem, espero que não fiques doente e dependas de mim para escolher se deves viver ou não.
Nesse momento, Michela entrou no quarto, assustada com o tom da conversa entre os pais.
- O que há “papi”?
- Tua mãe se recusa a dar um alívio para o pobre Juscelino. Ele não pode mais caminhar, já que as patas traseiras foram condenadas e ela acha que queremos simplesmente matar o cão!
- E não é isso mesmo “papi”? Será que não tem outro jeito, podemos procurar especialistas...
-Michela, ele é um cão!!
-Basta! Gritou Gwenda. Deixem-me aqui. Vou conversar comigo mesma e decidiremos o que fazer. Eu e eu mesma. Entenderam?
Os dois saíram e Gwenda ficou ali deitada ao lado de seu amigo e começou a conversar com o cãozinho.
- Ás vezes eu penso que não estou boa da cabeça mesmo amiguinho. Eu sei que tu não falas e que és um cão. Um pequeno abrigo de pulgas sem teto. Mas quando estou na rua trabalhando, sinto falta de ti e tenho vontade de chegar logo em casa para receber a festa que sei, tu farás. Sei que os cães não vivem muito, mas, tu estas ainda tão jovem. Ainda sobraram alguns tapetes de banheiro que não foram roídos e eu comprei pantufas novas para brincarmos à noite...
Gwenda chorava e Juscelino gemia. Eram duas criaturas sentindo dor.
Gwenda ligou a TV e acomodou Juscelino ao seu lado na cama. O cãozinho gemeu um pouco, mas logo enfiou o focinho embaixo das cobertas.
Ficaram ali por quase duas horas e Gwenda chorava ao ouvir o animalzinho gemer, cada vez que tentava se levantar.
- “Juju”, o que tu queres que eu faça?
O pequeno animal abriu seus grandes olhos negros e fitou Gwenda por alguns instantes voltando a enfiar o focinho nas cobertas.
Quando o marido de Gwenda voltou para o quarto, Juscelino levantou a cabeça e ficou olhando para o dono. Tentou levantar para a festinha habitual, mas não conseguiu, voltando a gemer.
- Gwen, o veterinário ligou, pediu que fôssemos vê-lo. Tu preferes que eu vá sozinho?
- Mas eu disse que ligaríamos assim que eu decidisse o que fazer. Quanta insistência para assassinar um pobre animal... Bem vou me vestir, já tenho a resposta para ele.
- Amorzinho, não precisamos ir agora, e nem precisa ser hoje.
- Olha só, decisões difíceis têm de ser tomadas logo. Chame Maria e peça que traga as roupas do Juscelino. Quero escolher uma bem bonita.
O marido saiu, sem dizer nada.
Em seguida entrou Maria, a empregada chinesa, com as roupas do pequeno “Juju”, dispondo-as sobre a cama.
Gwenda escolheu um traje escocês lindo e colocou no bichinho bem devagar para que ele não sentisse dor.
- Venha querido, é hora de dizer adeus.
Desceram as escadas e Michela cabisbaixa não disse uma palavra resumindo-se a afagar o amiguinho pela última vez.
- Que injustiça “mami”. Só porque ele é um animal...
Gwenda sem dizer nada entrou no carro com Juscelino. Abriu o vidro e disse ao marido:
- Vamos só eu e ele. Até mais tarde.
Deu a partida no carro e foi até a clínica lá permanecendo por pouco mais de 20 minutos, saindo após esse interregno com sua carga preciosa nos braços.
Quando chegou em casa, foi recebida por Maria e seu marido que viram entre sorrisos e lágrimas Juscelino descendo do carro no colo de Gwenda abanando a ponta do rabo que escapava da roupa.
- Amorzinho, fiquei tão arrependido, ainda bem que mudaste de idéia. Bem vindo amigo! Bem vindo!
- Ora, não mudei de idéia.
- Mas a senhora disse que era hora de dizer adeus... Eu achei e o patrão também que...
- Sim, mas não mudei de idéia. Realmente era hora de dizer adeus. Adeus ao Dr. “vamos ter de sacrificá-lo”. Mudamos de veterinário. Na verdade agora temos uma veterinária e ela me assegurou que “Juju” com uma pequena cirurgia poderá até caminhar. Vai dar um pouco de trabalho, mas, o que não fazemos por um amigo, não é verdade? Agora vamos que está muito frio e não queremos pegar uma gripe.
Dizendo isso ao animal que mais parecia uma bola de pelos enrolada em tecido xadrez, entraram todos fazendo festa ao cãozinho que gemia cada vez que recebia um abraço. (Gilda Satte Alam Severi Cardoso)
Um comentário:
Sempre o final feliz!!
E eu sempre esperando o contrário!
Bjs
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